
“Aqueles
que se haviam reunido perguntaram-lhe: Senhor, restaurarás tu neste tempo o
reino a Israel?” – At. 1: 6
Após
um bom tempo sem escrever para o Blog, resolvi sentar e enfrentar esse desafio
de transformar em texto as minhas inquietações, tendo em vista que nesses últimos
dias o debate político no Brasil vem sendo bastante acirrado, inclusive com a
participação cada vez mais ativa de setores da igreja evangélica.
E
é exatamente a participação da igreja em todo esse processo político que tem me
inquietado, tendo em vista que venho percebendo posturas extremamente equivocada
a respeito da questão. Por isso, iniciei o post com a passagem de Atos capítulo
1 versículo 6, que narra um dos últimos momentos de Jesus com seus discípulos,
antes do messias ser assunto aos céus.
Na
perícope acima consignada, os discípulos depois de terem vivenciados toda uma
gama de experiências com Jesus (inclusive sobre a amplitude e o sentido do
Reino de Deus), retornam a antiga esperança israelita, ou seja, a restauração
do reino da nação de Israel por meio de um Messias político.
Tenho
percebido exatamente nestes dias, o mesmo sentimento na ação política da
igreja, parece-nos que ao elegermos deputados, governadores, senadores e quem
sabe um presidente evangélico, de preferência defensores de pautas moralistas, salvaremos
a nossa nação. Ledo engano, que emerge da nossa incompreensão do verdadeiro sentido
do que é o Evangelho e a manifestação do Reino de Deus no cotidiano humano.
Antes
de avançar, deixe-me abrir um parêntese, para colocar certos pontos nos “is”. Não
estou defendendo aqui, que não possa haver candidatos evangélicos, e, que tais
pleiteadores aos cargos políticos não devam exercer os seus mandatos fundamentados
nos pressupostos cristãos. Isso é básico na cabeça de qualquer cidadão, seja
evangélico ou não.
Mas,
por outro lado, ressalto que o exercício político da igreja não deve ter como
foco prioritário o estabelecimento de uma teocracia moralista cristã, tendo em
vista que tal pensamento, inverte o polo da manifestação do Reino de Deus. Considerando
que a transformação da sociedade na ótica do Evangelho, sempre partirá da
transformação do coração do homem (o novo nascimento), para a partir daí, transformar
as estruturas cotidianas. O discurso fundamentalista que ecoa da Igreja
Brasileira em sua ação política, parece ter esquecido da equação básica
ensinada por Jesus em João 18:36, ao asseverar: “o meu Reino não é desse mundo”. Muito embora, é ponto pacífico
na Teologia Cristã, que o Reino se manifestou e se manifesta neste mundo. Contudo, não custa lembrar que o Mestre gastou
mais tempo com pessoas do que com estruturas.
Contudo,
a manifestação no mundo concreto social do Reino de Deus, dar-se-á prioritariamente
no coração dos discípulos de Jesus (a
priori) para posteriormente transformar as estruturas sociais (a posteriori), por meio da manifestação
e vivência da ética do Reino. Logo, a sociedade jamais será, segundo a lógica
do Evangelho: justa, igualitária e conforme os ditames divinos, sem que o
caminho não seja a transformação do homem.
Por
isso tenho sido enfático em asseverar segundo a ótica cristã, que não vai adiantar
nada se tivermos todos os políticos evangélicos, um sistema legal que reflita ipsis litteris o Texto Sagrado, seja
proibido o casamento gay, o aborto, o divórcio, o adultério seja punido com
apedrejamento e até obrigue as pessoas a baterem ponto nas igrejas - obviamente,
de preferência pentecostais, se o homem continuar sem Deus em seu cotidiano.
Portanto,
concluo afirmando que não estou condenando uma ação política lastreada na cosmovisão
cristã, mas, que a igreja vem gastando muito recurso e energia naquilo que não
é a causa primária do Evangelho. E que é fundamental sempre fazer a
indagação: Que tipo de messias a igreja brasileira espera em nossos dias? Qual o seu reino? Qual os seus valores prioritários?
Pr.
Jonas Euflausino
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