
A
política, especialmente no Brasil, é consensualmente compreendida como uma ação
firmada em uma lógica de desonestidade, portanto o envolvimento de cristãos e
pastores com a política é sempre alvo de debates que redundam em opiniões
destoantes, para não dizer antagônicas.
Mas
o que dizer de pastores e lideres denominacionais que se candidatam a cargos
políticos? Por esses dias ouvi uma colocação em uma reunião de lideres, que
confesso, deixou-me bastante intrigado e reflexivo, a referida colocação foi
mais ou menos assim: “Um pastor que se candidata a cargo político deveria
entregar a sua credencial a ordem de ministros”.
Sempre
compreendi que tudo que é dito em caráter discursivo, principalmente quando não
vem fundamentado pela devida argumentação motivadora, deve ser alvo de uma ação
crítica. E foi exatamente o que fiz pensar a respeito do que o ilustre colega
estava querendo dizer, em minhas elucubrações mentais vislumbrei duas motivações
para a colocação: em virtude da necessidade de dedicação integral ao
ministério; ou, em virtude do fato da política ser uma atividade tão suja que
ministros santos do Senhor não deveria se contaminar com a mesma.
Confesso
que a primeira foi mais dolorosa para mim, pois naquele momento entrei em crise
ministerial para não dizer existencial, e fiquei ali pensando com meus botões:
devolvo a minha Carta Patente à Unidade Militar onde sirvo, ou, entrego a minha
credencial ao presidente da Ordem de Ministros no final desta reunião. Mas aí
me veio à lembrança que o Apóstolo Paulo, por exemplo, não foi um ministro em
tempo integral, mas trabalhava com outros que faziam tendas em Corinto enquanto
evangelizava. Ele usava as suas habilitações para se financiar e abrir portas
para a sua missão naquela grande cidade (veja Atos 18:1-4).
Compreendi,
portanto, que o pastor pode conciliar atividades “seculares” com o ministério,
obviamente a palavra chave na questão é a conciliação, ele pode ser médico,
engenheiro, militar, policial, professor etc., desde que haja espaço em sua
agenda para suprir as demandas ministeriais de forma organizada e sem
sobrecarregar a sua vida como um todo.
Então
restou a questão da desonestidade, que é peculiar a ação política brasileira,
sobre essa questão me surgiram algumas inquietações e questionamentos: toda a
ação política tem que ser desonesta? Como ser sal e luz do mundo, ausentando-me
das estruturas do mundo? A ação política da igreja não seria uma imposição para
promoção e estabelecimento de uma cosmovisão cristã? Quando um cristão ao
entrar na política, torna-se desonesto, o problema está na política ou em sua
conversão?
A
essa altura da palestra meus botões já não aguentavam mais de tantos
questionamentos, então resolvi terminar a conversa com os mesmos, concluindo que
como qualquer cristão, um ministro do evangelho pode ser candidato sem ter que
abri mão do seu ministério, desde que haja possibilidade de conciliação. Bem
como, que o fato dele ser um servo de Deus requer dele a postura de fazer
política e não politicagem, ou seja, compreender que fazer política como
cristão impõe o estabelecimento da cosmovisão cristã tanto em suas ações
(honestidade, coerência, respeito etc.), como em seus projetos (justiça social
em toda a sua amplitude), e principalmente não fazer do rebanho do Senhor um
curral eleitoral, devendo implementar em sua comunidade de fé, uma reflexão
honesta e esclarecedora sobre a ação política da Igreja, sem manipulações e
subterfúgios.
É primordial que se tenha o cuidado
de não cairmos no velho erro: no afã de desprezarmos a água do banho, não jogarmos
junto o bebê. E analisarmos cada caso de forma particular, sem generalizações
apressadas, e assumirmos a compreensão que a política precisa de homens de Deus,
mas do que nunca, e que o Senhor tem chamados específicos para cada indivíduo (seja
pastor ou membro de uma igreja), chamando-o inclusive para fazer política.
Pr.
Jonas Silva
Estou a tentar visitar todos os seguidores do Peregrino E Servo, e verifiquei que eu estava a seguir sem foto, por motivo de uma acção do google, tive de voltar a seguir, com outra foto. Aproveito para deixar um fraterno abraço.
António Jesus Batalha.