
Aproveitando a deixa do título do filme de
Sérgio Bianchi (Quanto vale ou é por quilo? Brasil, 2005) resolvemos escrever
este “post” a respeito da relação de
certas lideranças ditas cristãs evangélicas com a classe política, fazendo uso
do seu rebanho e ministério.
Antes de qualquer colocação, gostaríamos de
firmar a posição que enquanto cidadão, todo pastor tem e deve se envolver com
as transformações sociais, dentre as quais, muitas delas passam pelo canal
político. Contudo, tal envolvimento deve se ater a sua consciência, e não por
meio da politicagem barata envolver de forma manipuladora a consciência do
rebanho. E é disto que pretendemos falar.
Todas
as vezes que eu vislumbro a ação do ministério pastoral, sempre delineio o
quadro metafórico do Rei Davi ainda Pastor de ovelhas arriscando a sua vida
enfrentando leões e ursos no intuito de proteger indefesas ovelhas do seu
Rebanho (I Sam 17:34-37). Não obstante a esta visão romântica, contudo, nem
sempre é isto que acontece na prática, já que muitos lideres usam o rebanho
estritamente para o proveito próprio.
Em dias de campanha eleitoral, fico
refletindo a respeito do que foi feito deste quadro quando observamos algumas
posturas pastorais, e fico pensando se tenho sido muito idealista ou ingênuo;
contudo, preferiria acreditar que pastores dão a vida por seu rebanho, ao invés
de tomar como verdade a conclusão: que pastores modernos dão a vida do rebanho
por suas vantagens pessoais.
Ficamos perplexos ao observares
pastores que envolvem o seu rebanho e ministérios em suas ambições políticas,
negociando com terceiros um suposto apoio, bem como, os votos do rebanho em
busca de benefícios temporais ou esmolas ministeriais.
Sabemos que o Pastor é um condutor e
um influenciador de vidas e consciências, o denota não somente a responsabilidade
da ação pastoral, mas também as possibilidades que a função permite, há muito descobertas pelos políticos.
É muito comum em dias de campanhas
eleitorais, políticos buscarem apoio de Pastores na tentativa de garimparem os
votos das ovelhas. Contudo, o que mais me deixa estarrecido são as estratégias
utilizadas pelos mesmos, que vão deste a doação de bancos; construção de
ambientes na igreja; apoio nos eventos, verdadeiras esmolas para a “igreja do
senhor”.
A questão impõe um debate ético: Até que
ponto, pode-se envolver o rebanho em campanhas políticas? Muitas vezes à custa
da alienação, e do uso da credibilidade que líderes espirituais possuem junto a
seus liderados. Qual a diferença daquela estratégia da política coronelista de
estabelecer um curral eleitoral, da atitude de muitos pastores que controlam o
voto de uma comunidade eclesiástica? Entendemos que em relação ao primeiro
dilema a resposta seria: Jamais. E infelizmente em relação à segunda questão:
nenhuma.
O púlpito, que seria o local de onde
deveria ecoar a mais cristalina Palavra de Deus, é oportunizado a políticos que
se dizem evangélicos ou amigos do Evangelho, muitas vezes de vida e testemunhos
duvidosos, para esporem demagogicamente as suas plataformas políticas,
plataformas estas chanceladas pelas lideranças eclesiásticas.
A mensagem do Evangelho é libertária
em essência, e o engajamento político social que dela emerge deveria ensinar o
rebanho a votar enquanto uma ação de compromisso e mudança social, ao invés de
manipular mentes e corações em pró de sórdidas vantagens pessoais.
Quando um Pastor negocia os votos de suas
ovelhas, ele esquece que os valores mais altos que estão na negociação são a dignidade,
o amor que respeita a pluralidade de opiniões, os valores do Reino de Deus, a
santidade, a dignidade e principalmente a sua função protecionista, que redunda
também em evitar a manipulação barata de mentes e corações.
Terminamos este post fazendo lembrar as
palavras proferidas pelo profeta Ezequiel, que entendemos como pertinentes e
relevantes para a nossa geração:
1
Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:2 Filho do homem, profetiza contra os
pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Ai dos
pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores
as ovelhas?3 Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não
apascentais as ovelhas.4 A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada
não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes;
mas dominais sobre elas com rigor e dureza. (Ez 34:1-5).
Pr.
Jonas Silva

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