
A
pandemia do Coronavírus já é uma realidade no Brasil, os números divulgados
pelas secretarias estaduais de Saúde, até as 20h00 desta última quarta-feira (18/03), apontam
para 512 (quinhentos e doze) casos confirmados em 20 estados da federação e no
Distrito Federal, dos quais redundaram em 04 (quatro) óbitos em virtude da
doença.
Dentre as ações perpetradas pelo
poder público, a que mais tem causado polêmica no mundo evangélico é o isolamento
social, tendo em vista que os executivos estaduais e municipais proibiram
reuniões públicas com mais de 50 (cinquenta) pessoas, decisão esta, que afetou
frontalmente os cultos de inúmeras igrejas evangélicas em nosso país.
Ante o quadro estabelecido, ou seja,
a impossibilidade de realizar cultos com mais de 50 (cinquenta) pessoas, surgiu
um caloroso debate nas redes sociais, defendendo posições diametralmente
opostas, sempre lastreando a sua visão em uma concepção particular do
Evangelho, do cristianismo e da fé.
De um lado, estão aqueles que
defendem que as igrejas devem continuar a sua vida normal, com os cultos
regulares, independente do quantitativo de frequentadores. A tese deste grupo
se baseia em visão mais pueril da fé, para eles, o culto público sobrepuja
qualquer outro imperativo do Evangelho, nessa ótica, a reunião (culto) termina
sendo um fim em si mesmo, e, a fé, simplesmente, um salto no escuro –
desprovida de qualquer lastro de racionalidade.
Ante a celeuma, algumas vezes temos
que fazer a leitura crítica do contexto, e, fazer opção por um dos lados, que o
é que pretendo fazer a partir de agora. Confesso, que não consigo comungar com a
visão maniqueísta do mundo perpetrada por alguns grupos evangélicos, a exemplo
dos que acabamos de falar.
Os especialistas vêm asseverando que o afastamento social
é uma das ações mais efetivas para evitar a proliferação do Covid-19, logo, ante
a constatação, surge a inquietação a respeito do valor do culto público. Será
que é justificável colocar a vida das pessoas em risco, em detrimento de um
preceito religioso? O interessante, é que tal questão, foi o tema dos embates
de Jesus com certos fariseus, que elegiam práticas litúrgicas como mais relevantes
que a misericórdia e a vida humana. Vejamos alguns exemplos:
1 1) Alguns fariseus colocaram o sábado como
mais importante que a vida; sobre esta questão Jesus respondeu: E,
estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para o acusarem, o
interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? E ele lhes disse: Qual
dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova,
não lançará mão dela, e a levantará? Pois, quanto mais vale um homem do que uma
ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados. (Mateus 12:10-12)
2)
Alguns fariseus colocaram os preceitos
acima da misericórdia, sobre esta questão Jesus respondeu: Mas,
se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não
condenaríeis os inocentes (Mateus 12:7).
Poderia citar outros exemplos, mas vamos nos
limitar aos dois, considerando que a partir dos mesmos, fica claro a
importância que Jesus deu a vida humana. Portanto, partido da ótica do Mestre
(nosso paradigma de conduta) jamais poderia compreender um culto no qual a vida
humana seja depreciada em favor do mesmo. Será que justificaria diante de Deus
um culto que colocasse a saúde e até a vida das pessoas em risco? O amor que é
o dom supremo do Evangelho, traduz-se em cuidado com a criação e com o próximo;
portanto, entendo que a resposta a indagação é um solene não.
Outra questão que me incomoda no debate, é que
a visão maniqueísta coloca a igreja acima das autoridades estabelecidas. Nesta
ótica, tenta-se atrelar a impossibilidade de realizações de alguns cultos
públicos ao debate da perseguição religiosa, sendo a desobediência civil uma
saída para a igreja. Gostaria de lembrar que a desobediência civil é
justificada quando valores supremos (a vida e a dignidade humana etc.) são feridos
por leis injustas. O que não é o caso. Não temo em dizer, que neste momento,
quem afronta o discurso do distanciamento social não está, certamente, do lado
dos “mocinhos”.
Por
fim, gostaria de afirmar que na questão da pandemia do Coronavírus, a igreja
evangélica brasileira (que não é uma edificação, ou lugar, mas, os salvos em Jesus) deve fazer a sua parte (orando, adorando e cuidando das pessoas), contribuindo para a solução do
problema, e não, a partir de premissas distorcidas e discursos manipuladores,
tornar-se um catalizador para agravamento do quadro. Apesar da realidade preocupante,
testifico que em nenhum momento a minha fé foi abalada, confio, plenamente, que
Deus continua soberano, poderoso e bom, contudo, aprendi com Jesus: Não
tentarás o Senhor teu Deus. (Mateus 4:7).
Pr. Jonas Silva